terça-feira, 14 de junho de 2011

Vascão Inesquecível .

No dia 14 de Junho de 1957, se realizava na cidade de Paris, Capital Francesa, a Final do  I Torneio de Paris que na  época tinha o formato do torneio Mundial de hoje.

Na Final nada mais nada menos do que o grande poderoso Real Madri, do craque argentino Di Stéfano,do outro o Clube de Regatas Vasco da Gama. Um verdadeiro jogo para entrar para a história do futebol mundial.

Vasco, e Real entraram em campo para a final, diante de um público numeroso [38 mil] e ávido de emoções.
E emoções não faltariam: aos 4 minutos, aproveitando-se de uma indecisão de Viana, Di Stéfano colocava o Real em vantagem. O gol espanhol pegou o Vasco ainda frio e criou o cenário ideal para um europeu: um jogo agradável, uma noite maravilhosa, uma equipe brasileira habilidosa mas perdendo.
Foi então que, num passe de mágica, o Vasco passou de dominado a dominador. Seus jogadores começaram a tocar a bola com tal habilidade que a partida foi se transformando numa verdadeira brincadeira de gato e rato. O gol de empate, era óbvio, não tardaria. Aos 20 minutos o lateral direito Dario fez um longo passe transversal para Ortunho que, de primeira, enfiou para a corrida de Pinga. O grande ponta foi a linha de fundo e jogou para trás, para Válter, que soltou uma bomba que estufou a rede espanhola.
Entre estupefatos e divertidos, os franceses aplaudiram, sem saber que o melhor estava por vir. Qual um rolo compressor, o Vasco continuou o recital. Mesmo desfalcado de alguns titulares convocados para a Seleção Brasileira que disputava as eliminatórias da Copa do Mundo, o Vasco botou o grande Real Madrid na roda. De modo que ninguém se surpreendeu com o segundo gol. Aos 32 minutos nova jogada de Pinga pela esquerda, novo passe para a área, desta vez para o complemento de Vavá, o "Peito-de-aço", enfiado entre os zagueiros espanhóis. Conquistados, os franceses ensaiaram um Vascô, Vascô.
Humilhado pelo banho de bola, o time espanhol voltou para o segundo tempo agressivo. Logo aos 8 minutos Mateos empatou, concluindo bela jogada de Kopa. Empolgados e apoiados pela torcida que já havia esquecido a exibição vascaína do primeiro tempo, os jogadores do Real resolveram ganhar no grito: Gento agrediu Pinga com uma cabeçada e o pau comeu durante 10 minutos. Praticamente sozinho o negão vascaíno Ortunho botou o time espanhol p'ra correr.
Os ânimos haviam apenas serenado quando o mesmo Ortunho entrou duro sobre Mateos, obrigando o jogador do Real a deixar o gramado. Como os espanhóis já haviam feito as duas substituições regulamentares, os dirigentes do Vasco se opuseram à substituição de Mateos, numa atitude que não contribuiu em nada para acalmar os ânimos.
Com Mateos fazendo número (ou fingindo) a partida recomeçou e com ela o domínio do Vasco. Até que aos 21 minutos veio o terceiro gol. Uma obra de arte. Uma pintura digna de ser exposta no Louvre (ou numa vitrine da Rua do Ouvidor). Em jogada sensacional, Válter enfiou uma bola de curva para Livinho deslocado pela meia esquerda. Este, cercado de espanhóis por todos os lados, não pensou duas vezes: ao invés de tentar passar a bola para um companheiro desmarcado, simplesmente optou pelo impossível. Com um toque leve e sutil, quase diáfano, tocou pelo alto encobrindo o goleiro espanhol.
Conquistados, os franceses aplaudiram. Deseperados, os espanhóis tentaram reagir na raça. Mas o Vasco tinha a partida nas mãos: aos 39 minutos, numa jogada acrobática que provocaria sua contusão, o meia Válter marcaria o quarto e último gol vascaíno.
Completamente abatido, o Real, num sobressalto de orgulho, se lançou à frente com todas as forças, conseguindo diminuir o marcador através de Kopa aos 44 minutos. A torcida, que no primeiro tempo tinha vibrado com o Vasco mas que durante a briga apoiara os espanhóis, vaiou quando após a saída a bola foi atrasada para o goleiro Carlos Alberto.

Depois do jogo, de cabeça fria, os franceses entenderam que tinham visto um espetáculo raro, embora doloroso para eles: o baile que os "sambistas" negros tinham aplicado no campeão europeu, considerado o melhor time do mundo. Vale a pena reler o que escreveu no dia seguinte Jacques Ferran no jornal l'Équipe:
"E então, bruscamente o Real desapareceu literalmente. Seriam as camisas de um vermelho pálido ou os calções de um azul triste que enfraqueciam a soberba equipe espanhola? Não; é que, antes, apareceram subitamente do outro lado os corpos maravilhosos, apertados nas camisas brancas com a faixa preta, de onze atletas de futebol, de onze diabos negros que tomaram conta da bola e não a largaram mais.
Durante a meia hora seguinte a impressão incrível, prodigiosa, que se teve é que o grande Real Madrid campeão da Europa, o intocável Real vencedor de todas as constelações européias estava aprendendo a jogar futebol".

Por sua vez, o jornalista Gabriel Hanot, o mesmo que mais tarde chamaria Pelé de Rei, admitia que o Real fora totalmente dominado. No time do Vasco, a defesa com quatro zagueiros tinha causado grande impressão, mas o destaque ficava mesmo para o meio campo e para o ataque, onde Laerte, Livinho e Pinga tinham dado um show de bola.
Do Real, só haviam escapado Kopa e Mateos. Ao grande Di Stéfano, que sumiu do jogo após ter marcado o primeiro gol, restava a frustração de mais uma derrota frente ao Vasco. Nessa suave noite de glória para o futebol brasileiro, a grande estrela argentina tinha sido ofuscada por um astro maior: Válter Marciano. O que Válter fez nesse jogo não pode ser descrito por palavras. Quem viu, viu, quem não viu, não viu. Um futebol tão mágico que levou Hanot a dizer dele que "jogou um jogo de ataque tal como há muito tempo não se via na Europa".


                                                              Válter Marciano herói Vascaíno.

VASCO DA GAMA (RJ) 4 X 3 REAL MADRID (ESP)
Data: 14/06/1957
Torneio de Paris
Publico: 38.000
Gols: Di Stefano’ 4 ; Valter’ 20 ; Vavá’ 32 ; Mateos’ 08 ; Livinho’ 21 ; Valter’ 39 ; Kopa’ 44 .
VASCO DA GAMA: Carlos Alberto; Dario, Viana, Orlando e Ortunho; Laerte e Valter Marciano; Sabara’, Livinho, Vava’ e Pinga.
REAL MADRID: Alonso; Torres, Marquitos(Santamaria), Lesmes e Munoz; Ruiz e Mateos; Kopa, Di Stefano, Rial(Marshal) e Gento.

Jogos

12/06/1957: VASCO 3 X 1 RACING (FRA)
14/06/1957: VASCO 4 X 3 REAL MADRID (ESP)


Fonte: Netvasco

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