Pedrinho eterno ídolo. |
Estávamos todos ali, naquele fatídico dezembro de 2008, em São Januário. Eu estava agarrado, em agonia, ao alambrado do estádio, no lado das sociais, quando o juiz apitou o final do jogo, decretando o dia mais triste da história do Gigante da Colina.
A primeira coisa que fiz foi virar os olhos para dentro do campo. Pelas grades, pude ver uma figura tomar conta de todos os meus sentidos embotados pela paixão e pela dor. A figura se colocava de pé... adentrava o campo... punha as mãos sobre o rosto... queria desacreditar do que via, espalhando as lágrimas contínuas que lhe teimavam em correr pela rubra face.
Era Pedrinho, jogador do Vasco.
Quando vi Pedrinho em desespero com o final daquele jogo, quando vi a sinceridade de suas lágrimas de homem e de seu pranto de menino, quando vi seus lábios tremulando palavras que o estádio lotado a cantar o hino do clube não me permitia entender o que eram, tive um súbito sentimento.
Minhas lágrimas secaram. Meu pranto calou. A dor em meu peito começou a ter um estranho e inexplicável sentimento de cura, de restauração, de conforto.
Quando eu vi um gigante dos gramados e da história do Vasco como é esse pequeno Pedrinho a chorar daquele jeito, uma força súbita estrondou minh’alma, sacudiu meu íntimo, reverberou em meu ser. Naqueles olhos marejados de paixão eu vi o Vasco dos meninos da Colina, dos corações infantis que fariam o Vasco imortal. Quando vi o menino dos dribles mágicos de salão, do futebol arisco e salseiro, da canhotinha encantada que entortava marcadores, das arrancadas fulminantes rumo à grande área... quando vi aquele menino Pedro Paulo transformado em Pedrinho homem – apaixonado e vascaíno – achei que eu não podia esmorecer!
Eu não tinha o direito de chorar. Pedrinho havia chorado por mim!
Por um minuto me dei conta de que os olhos de um ídolo do Vasco como Pedrinho seriam capazes de chorar as lágrimas de todos nós. Por um minuto pus-me a ver que os olhos de um mito, de um craque, de uma referência do clube, de um campeão estadual, brasileiro, sulamericano também eram os meus e os seus olhos... os olhos dos vascaínos de todo o planeta, os olhos da estátua simbólica do Almirante na entrada de São Januário, os olhos do presidente ídolo-mor Roberto Dinamite, os olhos do roupeiro Severino, os olhos da estátua do capitão Bellini na entrada do Maracanã. Pedrinho simbolizou todos os olhos do Vasco naquela tarde.
Pedrinho, diante das câmeras e da emoção do estádio lotado, foi um intercessor. Ele não chorou apenas a sua própria dor. Seu choro latente e comovente foi o choro de todos os vascaínos.
Pedrinho me ensinou, naquela tarde trágica, uma verdade absoluta que virou slogan de campanha do time mais tarde: o sentimento não pode parar!
Acho que todo torcedor do Vasco, quando vê a imagem de Pedrinho, imediatamente sente no coração o orgulho de ter em seu panteão um menino-homem de nome diminutivo com tamanha grandeza de gesto e de devoção.
Acho que todo torcedor vascaíno, cuja paixão cresceu um milhão de vezes mais pelo clube de história e de bandeira mais linda do universo naquela tarde triste, alegra-se e orgulha-se de ter um Pedrinho como referência de craque, de talento, mas sobretudo de postura, de profissionalismo, de ética, de devoção.
Numa época em que são endeusados os ídolos de barro, que caem e esfacelam ante escândalos e vadiagens que a vida fácil dos holofotes e da mídia bajuladora proporcionam, as lágrimas de Pedrinho refletem um enigmático canto de dor e devoção clubística, de genuína paixão pelas cores e pela insígnia da cruz-de-malta estampada na bandeira tantas vezes campeã.
Eu digo – e quero reverberar esse meu dito – que foi Pedrinho o primeiro a transformar a dor vascaína em poesia, a perda em ganho, o sofrimento em paixão.
Dentro de campo, se o Vasco tivesse sobrevivido àquela sanha, o único herói teria sido um pequeno baixinho guerreiro chamado Mádson. Mas fora das quatro linhas - embora dentro de todas as linhas do coração da torcida - o maior símbolo da paixão viva que sobrepujou o apito final e converteu um enorme pranto num canto uníssono do hino do clube a plenos pulmões... foi Pedrinho!
Eu não sei se ele sabia, mas há de ficar sabendo agora, pelo registro destas palavras, que nós, vascaínos, o teremos para sempre como uma alegria que jamais se despedirá dos gramados, dos estádios ou mesmo de nossa vida.
O Grande Vasco continua grande como nunca deixara de ser. Mas nós sabemos que parte dessa grandeza se deve às lágrimas tristes que rolaram do rosto de Pedrinho e renovaram a nossa felicidade.
Nem que fosse apenas por isso, teríamos a gratidão e o carinho de dizer ao nosso ídolo: PARABÉNS, PEDRINHO!
Autor: Hélio Ricardo Rainho
Créditos: Carlos Gregorio Júnior
Fonte: SuperVasco
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